Thursday, October 13, 2005

Surf


Do mar não se deve ter medo nem ser tão íntimo, apenas devemos respeitá-lo. Quando a ressaca é muito forte, por exemplo, não precisamos ficar longe da água pois não podemos deixar de desfrutar o prazer de estar envolto dela. É bom saber também que o mar é sedutor, traiçoeiro e não responde por seus atos. Não se vê o fim daquilo que é a coisa mais fascinante que podemos tocar. Ondas são únicas, podemos desfrutar de cada uma delas apenas uma vez na vida e nunca mais. Nem sempre conseguimos deslizar por sua concavidade mais perfeita, mas fazemos de tudo para estarmos em harmonia com todos os movimentos das águas para não desperdiçar um só segundo de prazer. Tal deleite custa um árduo caminho até além da arrebentação, nada nessa vida é tão fácil, e quando lá estamos, é só o começo de uma louca alucinação: a onda perfeita. Ela é só uma, uma paixão, um amor, que passará por ali a qualquer momento. Os olhos devem estar atentos ao horizonte, os instintos apurados, a respiração de acordo com os movimentos, músculos relaxados e descansados prontos para aquele momento. Passamos de um lado a outro por entre massas d’água que se deslocam com força e velocidade, mas se não for a forma certa as desprezamos. Se aquela for ideal, colocamos em prática – quase – todas as nossas virtudes para que possamos estar com ela. E ela sempre aparece. Linda, majestosa, brilhando, em forma perfeita. Nadamos até ela, nos posicionamos no melhor local possível para que sejamos levados prazerosamente por tempo indefinido. Braçada após braçada, em cima dela, tudo tem de funcionar, não percebemos quanto esforço está sendo feito, continuamos até sentir que estamos fluindo envolvido com a sua velocidade e que não é mais necessário nadar, somente deslizar sobre ela. Isso não torna as coisas mais simples, pois, temos que saber onde nos colocarmos a cada momento de sua formação. Manter o equilíbrio, a serenidade e, acima de tudo, saber desfrutar o prazer de estar ali até o final, porque uma hora há o final. Em outros casos, pode-se nadar em sua crista com todas as forças, mas não é possível de se envolver nela completamente. Sente-se até um início de movimento sobre aquela massa viva como se fosse deslizar com pura espontaneidade e num lapso de infortúnio – não se sabe como – ela passa e ficamos para trás. É uma cena melancolia ver ela indo embora deslocando-se de forma perfeita, adornada com véu de borrifo branquinho e brilhante. Geralmente, quando isso acontece, seu deslocamento foi tão adiante que acaba se encontrando no meio da zona de arrebentação. E aquelas espumas enormes das ondas que vinham em seqüência lhe punem com enormes caldos. Particularmente, adoro essa parte de ficar sendo jogado de lado para outro dentro do mar, maior interação não há. Depois de tanta surra e decepção nada mais resta que olhar novamente aquele horizonte em movimento e tornar a passar a arrebentação.

3 comments:

Anonymous said...

Para o surfista, para aquele que realmente ve o mar, deve haver uma certa decepção nas ondas não surfadas. Sempre achei isso. Tenho tanto respeito pelo mar, pelas ondas, pela impermanência..O mar,, tem muito aensinar..acho que preciso ve-lo. Vamos?

Anonymous said...

Brrrr! Tenho pavor do mar. Só quando está manso me sinto à vontade para me aproximar dele. De resto, se encapelado, só à distância e com o desconforto dentro de mim.
Vai a este blog de uns apaixonados do surf, pode ser que gostes: http://ondas.weblog.com.pt/

Anonymous said...

É envolto "por", "em",não "envolto dela", é só um errinho, mas fique atento, e não chupe o café ao beber !